O Autódromo de Interlagos, em São Paulo, transformou-se em um caldeirão de emoções na sexta-feira, 12 de setembro, para o terceiro dia de shows do The Town 2025. Uma jornada musical que prometia ser inesquecível, marcada pelo retorno de ícones internacionais e pela energia de artistas nacionais, resultou em uma noite de contrastes.
Enquanto alguns shows foram celebrados como triunfos da nostalgia e da produção, outros enfrentaram o escrutínio do público e da crítica, gerando intensos debates nas redes sociais. Os fãs, muitos deles a caráter para ver a lendária boy band Backstreet Boys, vivenciaram um festival que oscilou entre a euforia e a desanimação.
- The Town 2025: como foram os shows do dia 7 de setembro
- The Town 2025: como foram os shows do dia 6 de setembro
- Confira todos os vencedores do MTV VMA 2025 – Fita Demo
Como foram os shows do dia 12 de setembro do The Town 2025
O Palco The One recebeu talentos brasileiros que, de diferentes formas, apresentaram suas trajetórias e visões artísticas, provocando reações diversas na multidão.
Di Ferrero: emo, pop e pagode em perfeita harmonia?
Di Ferrero, a voz do NX Zero, abriu os trabalhos no Palco The One com sua aguardada estreia solo no The Town. Seu show, intitulado “The Hard Pop Party”, foi um reflexo de sua fase atual, que, desde 2018, busca abraçar um lado mais pop e dançante, sem, contudo, abandonar as raízes emo que o consagraram nos anos 2000.
Com uma banda completa e vibrante, ele revisou sucessos do NX Zero, como “Só Rezo”, “Razões e Emoções” e “Não é Normal”, e apresentou canções de sua carreira solo, incluindo a recém-lançada “Além do Fim”, cujo refrão o público prontamente acompanhou.
A grande sacada de Di Ferrero foi a inclusão de covers inusitados que sublinharam sua versatilidade. O artista surpreendeu com um mashup criativo de “Misery Business”, do Paramore, com o pagode “Até que durou”, de Péricles, uma fusão que arrancou aplausos e risadas.
Além disso, ele trouxe versões rock de “Toxic” de Britney Spears e um cover de “Bye Bye Bye” do ‘N Sync, uma homenagem oportuna no dia em que os Backstreet Boys seriam a atração principal. Prestigiado pela esposa, Isabeli Fontana, e pelo enteado, Di Ferrero encerrou a apresentação visivelmente emocionado, após um discurso tocante sobre saudade e uma homenagem a Chorão, do Charlie Brown Jr..
Duda Beat: brilho, hits e um mar de críticas
Duda Beat subiu ao Palco The One com um visual repleto de brilho e um cenário iluminado por luzes de LED coloridas, prometendo entregar seus hits conhecidos. No entanto, o que se seguiu foi uma enxurrada de críticas nas redes sociais, onde a cantora foi “detonada” por “presença de palco zero” e por causar “vergonha alheia”.
Antes mesmo de iniciar, Duda parecia irritada nos bastidores. A pernambucana abriu com “DRAMA” e “q prazer”. Apesar de seu “vozeirão” se manter intacto para as notas graves, os agudos no cover de “Wuthering Heights” de Kate Bush revelaram dificuldades. O público foi notavelmente pequeno e a resposta à sua performance foi de “desânimo”, com muitas pessoas optando por permanecer sentadas e conversando, alheias ao palco.
A maioria dos presentes não parecia familiarizada com o repertório, à exceção de sucessos como “Tangerina”, “Bedi Beat” e “Bixinho”. A participação inesperada do ator Renato Goes durante “Todo Carinho” foi descrita como “aleatória”, apesar de arrancar alguns gritos. O show, que também incluiu faixas de seu último álbum, “Tara e Tal” (2024), e do EP “Delírio vil. 1”, foi considerado “aquém do potencial” da artista, mesmo com o suporte de bailarinos talentosos e figurinos cintilantes.
Pedro Sampaio: investimento milionário e baile envolvente no The Town
Pedro Sampaio marcou sua estreia no The Town com um show que ele próprio descreveu como o mais caro de sua carreira, com um investimento na casa dos milhões. No Palco The One, sua “superprodução” garantiu um dos públicos mais animados do festival.
O DJ carioca “puxou mais o lado DJ” em sua performance, que se destacou pela impressionante estrutura com cinco plataformas móveis, um balé de 22 dançarinos, câmeras que ofereciam um ponto de vista cinematográfico nos telões, pirotecnia e uma constante chuva de papel picado.
Sampaio iniciou com “Pocpoc” e rapidamente fez a multidão entrar no ritmo. O show foi um desfile de remixes de pop internacional, incluindo “Bye Bye Bye” do ‘Nsync, embora ele tenha optado por não incluir músicas dos Backstreet Boys, os headliners da noite. Hits autorais como “Galopa”, “Chama Ela”, “No Chão Novinha”, “Dançarina” e “Escada do Prédio” fizeram o público dançar sem parar.
O ponto alto foi a execução de “Vai no Cavalinho”, um clássico do forró eletrônico, que transformou o gramado em uma coreografia coletiva de “andar de ré e depois correr para frente”. Com seu namorado, Henrique Meinke, e sua mãe emocionada na plateia, Pedro Sampaio demonstrou que o público do The Town busca não apenas música, mas uma experiência completa e altamente engajadora.
Luísa Sonza: nova era, covers e discurso inspirador
Luísa Sonza encerrou as apresentações do Palco The One, usando sua performance para sinalizar a chegada de uma nova fase em sua carreira e a proximidade de seu quarto álbum. Com um novo corte de cabelo e uma identidade visual dominada pelo amarelo, a cantora gaúcha transformou o palco em um ambiente teatral, com escadas, mesas e cadeiras na mesma cor vibrante.
Em um dos momentos mais marcantes, Luísa dedicou o show a “todos os cantores de baile, de barzinho, de cover”, com uma mensagem poderosa sobre a autonomia da própria história: “a história é você que faz” e a importância de não se importar com o julgamento alheio. O show começou com um repertório mais suave de “Escândalo Íntimo”, com “Sagrado Profano” e “Principalmente me Sinto Arrasada”, e seguiu com uma série de covers que passearam por diferentes épocas e estilos musicais.
Ela cantou “Louras Geladas” do RPM (apesar de problemas técnicos no microfone), homenageou Rita Lee com “Amor e Sexo” e surpreendeu ao mesclar o clássico da bossa nova “O Barquinho” com “Musa do Verão” de Felipe Dylon, que culminou em sua própria faixa “Sou Musa do Verão”.
Com a presença da mãe, prima e do namorado Luís Ribeirinho – que a presenteou com um beijo nos bastidores –, Luísa também entregou as coreografias virais de hits como “Dona Aranha” e “Motinha 2.0”. Contudo, os momentos finais com “Penhasco” e “Penhasco2”, onde a cantora tentou mostrar sua evolução vocal, causaram certa dispersão na plateia.
Palco Skyline: do soul aos anos 90, em uma viagem inesquecível
O Palco Skyline foi o coração do terceiro dia do The Town, apresentando shows que celebraram a rica tapeçaria da música, misturando a alma do soul com a efervescência pop das últimas décadas.
Jota Quest e a homenagem a Tim Maia
O Jota Quest inaugurou o segundo fim de semana do Palco Skyline com um show que, embora competente, seguiu um roteiro um tanto protocolar. A grande e emocionante novidade foi a inclusão de “Acenda o Farol”, de Tim Maia, em um “dueto” póstumo com a voz do Rei do Soul, exibida em imagens nos telões. Rogério Flausino, vestindo um terno espelhado, dedicou a performance ao “padrinho” da banda, cuja influência foi crucial para o grupo adotar o nome Jota Quest.
Com a voz de Flausino em boa forma e um som “redondinho e encorpado” dos músicos, a banda revisou sucessos como “Encontrar Alguém”, “De Volta ao Planeta”, “Fácil”, “Mais uma Vez” e “Só Hoje”, aquecendo os casais sob os 15 graus da tarde paulistana.
Em “Só Hoje”, Flausino incitou o público a levantar as lanternas dos celulares, criando um momento que ele previu como um dos “melhores do festival”. Apesar da execução impecável, o show pecou pela falta de “mimos” ou surpresas pensadas especificamente para um festival desse porte. Um pequeno deslize, que gerou risos, foi quando Flausino agradeceu ao “Rock in Rio” em vez do “The Town”.
CeeLo Green: baile de formatura global com sabor brasileiro
CeeLo Green, em sua terceira participação em festivais da Rock World, transformou o Palco Skyline em uma genuína pista de dança. Embora não seja mais considerado um “nome em alta”, o artista de Atlanta demonstrou seu inegável talento e carisma ao mesclar clássicos atemporais de funk, soul e pop com seu próprio repertório.
Com um figurino amarelo e azul, que parecia uma homenagem às cores do Brasil, CeeLo começou o show com uma intensidade contagiante, incorporando elementos de James Brown, Michael Jackson e Kool & The Gang. A plateia, embora em grande parte composta por fãs dos Backstreet Boys, não conseguiu resistir ao ritmo, dançando e cantando em sintonia com o artista.
Ele apresentou “We Want You Girl”, uma colaboração com o duo Tropkillaz, com coreografias de bailarinas cariocas, e surpreendeu ao incluir sucessos nacionais como “Ela É Top” (MC Bola) e “Magalenha” (Sérgio Mendes), arriscando até um “Todo mundo gritaaaaa” em português. O espetáculo, que teve até um cover de “Don’t Cha” (Pussycat Dolls), da qual CeeLo é coautor, culminou com seus maiores sucessos, “Crazy” e “Fuck You”, e foi encerrado com “That’s The Way (I Like It)” do KC and the Sunshine Band.
Jason Derulo: sensualidade TikToker e falta de voz
Jason Derulo trouxe ao Palco Skyline uma performance marcada por uma sensualidade intensa, coreografias perfeitas e um apelo exagerado à estética do TikTok, mas com a voz ao vivo em segundo plano. A noite começou com um DJ preparando o terreno com funks brasileiros e hits internacionais. Quando Derulo finalmente apareceu, sua apresentação foi vibrante, porém “sem graça” e previsível, com o uso predominante de playback e AutoTune.
O cantor, que recuperou parte de sua popularidade através do TikTok, fez questão de promover repetidamente seu perfil na plataforma, pedindo que os fãs filmassem para postar, o que, para alguns críticos, desviou o foco da música. Ele exibiu seu físico sarado, sensualizou, fez “caras e bocas safadas” e coreografias ousadas com seus bailarinos, incluindo os aclamados Les Twins.
O repertório incluiu hits como “Swalla”, “Wiggle”, “Savage Love” e, em um aceno ao público brasileiro, “Tá Ok”. Contudo, a plateia se mostrou “desinteressada” e “pouco engajada” em muitos momentos, o que levou a comparações com uma “performance criada por inteligência artificial”.
Backstreet Boys: o triunfo da nostalgia raiz e um marco histórico
O grande encerramento do terceiro dia do The Town ficou a cargo dos Backstreet Boys, que subiram ao Palco Skyline às 23h15 para um show que se consagraria como o maior da boy band no Brasil, atraindo uma plateia estimada em 75 mil pessoas. A apresentação foi uma verdadeira viagem no tempo, celebrando os 25 anos do álbum “Millennium” (1999) e marcando um feito histórico: foi a primeira vez em quase 25 anos que uma boy band foi headliner de um grande festival brasileiro.
O quinteto abriu com o hit “Larger Than Life”, e a plateia, majoritariamente feminina e com idades entre 30 e 40 anos, cantou em uníssono e se emocionou profundamente, com muitos fãs chorando no gramado. Brian Littrell expressou o desejo de retornar em 2026, e Nick Carter declarou o Brasil como a “casa” dos Backstreet Boys, relembrando o afeto recebido desde 2002.
O show, que contou com figurinos coordenados pelo estilista Yohji Yamamoto, foi um desfile de clássicos: “As Long As You Love Me”, a catártica “I Want It That Way” (um dos pontos altos da noite), “Shape Of My Heart” e “Everybody (Backstreet’s Back)”, que encerrou a performance com a coreografia clássica e Howie usando uma camisa da Seleção Brasileira.
Apesar da euforia com os grandes hits, a energia do público diminuiu em canções menos conhecidas ou lançadas após 2001, como “Siberia”. No palco, a banda recebeu um certificado de disco de platina pelo álbum “Millennium”, que AJ McLean fez questão de dedicar aos “melhores fãs do mundo”.
Embora as coreografias estivessem mais “econômicas” do que nos anos de auge, os vocais se mantiveram consistentes, mesmo com os desafios de saúde de Brian Littrell. O show foi uma celebração descarada do pop adolescente dos anos 90 e 2000, um gênero que, após anos de preconceito, finalmente recebeu o merecido status de headliner em um grande palco. Fogos de artifício e chuva de papel picado selaram a festa pop, que foi um verdadeiro presente para os corações nostálgicos.