Rock, protesto e showzaços marcam o Dia da Independência no ‘The Town 2025’

green day shows do dia 7 de setembro do The Town 2025Foto: The Town / Divulgação

Os shows do dia 7 de setembro do The Town 2025, no Autódromo de Interlagos, entraram para a história como um verdadeiro tributo ao rock e ao punk. Com uma programação intensamente voltada para esses gêneros musicais, o feriado da Independência do Brasil se transformou não apenas em uma celebração sonora, mas também em um palco vibrante para manifestações políticas e sociais.

O público, que variava de adolescentes a adultos nostálgicos, vestiu preto, camisas de banda e jaquetas de couro, demonstrando a atitude que pulsava na Cidade da Música.

Como foram os shows do The Town 2025 no dia 7 de setembro?

Green Day faz principal show do dia do The Town 2025 e grita pela democracia

A grande atração do Palco Skyline, o Green Day, entregou uma performance arrebatadora de quase duas horas. A banda, que retorna ao Brasil com a turnê “Saviors”, iniciou seu show de forma épica, com trechos de clássicos como “Bohemian Rhapsody” do Queen e “Blitzkrieg Bop” dos Ramones, antes de explodir com a icônica “American Idiot”.

A imagem de uma mão segurando uma granada em forma de coração (capa do álbum intitulado com o nome da clássica canção citada anteriormente) no fundo do palco já anunciava a identidade política do grupo.

Billie Joe Armstrong não poupou críticas, atualizando a letra de “American Idiot” para rejeitar a “agenda MAGA” de Donald Trump e os “fascistas”. Em “Holiday”, trocou a “Califórnia” por “São Paulo”, e celebrou a data nacional brasileira com repetidos “Feliz Dia da Independência, Brasil!”. Extremamente carismático, Armstrong interagiu constantemente, erguendo bandeiras do Brasil e chamando uma fã ao palco para cantar “Know Your Enemy”.

O repertório passeou pelos maiores clássicos como “Basket Case”, “Longview” e “When I Come Around”, além de músicas recentes de “Saviors”. O espetáculo culminou em um mar de confetes verde e amarelos e a balada “Good Riddance (Time of Your Life)”, cantada apenas com violão. O show foi descrito como potente e emocionante, mesmo sendo mais direto do que performances anteriores.

Lendas do rock em destaque: Iggy Pop e Bruce Dickinson

O palco The One teve a honra de receber o “padrinho do punk”, Iggy Pop, que aos 78 anos, desafiou a lógica do corpo humano com uma performance crua e memorável. Em sua quinta visita ao Brasil, Iggy entregou um verdadeiro ritual rock n’ roll, pulando, se jogando e contorcendo-se no palco, eletrizando a plateia com clássicos como “The Passenger”, “Lust for Life” e “I Wanna Be Your Dog”. Sua banda de apoio, que incluiu Nick Zinner do Yeah Yeah Yeahs na guitarra, garantiu o som alto e preciso, sem ofuscar o protagonismo inabalável de Iggy. Para muitos, foi o melhor show do dia.

Antes do Green Day no Skyline, Bruce Dickinson encarou um público “morno”, mas não deixou de impressionar com a força de sua carreira solo. O vocalista do Iron Maiden, em sua segunda vez no Brasil com a banda solo em pouco mais de um ano, mostrou sua voz potente e carisma, focando em faixas de seus álbuns solos como “Balls to Picasso” e “The Chemical Wedding”.

A surpresa e alegria dos fãs do Iron Maiden veio com a rara execução de “Flash of the Blade”, uma música que nunca entrou nos setlists do Maiden e foi tocada por Dickinson pela segunda vez desde seu lançamento, 41 anos atrás. A banda que o acompanha, The House Band of Hell, com destaque para a baixista Tanya O’Callaghan (Whitesnake), garantiu um som técnico e entrosado.

Bad Religion traz punk técnico e mensagens afiadas

A banda seminal do punk californiano, Bad Religion, entrou de última hora para substituir o Sex Pistols, após uma fratura no pulso do guitarrista Steve Jones. A substituição se mostrou um acerto, e o grupo, apesar das dificuldades logísticas para chegar ao Brasil, presenteou o público com letras de afiado tom político.

O vocalista Greg Graffin, inclusive, aproveitou o 7 de setembro para declarar antes de “You Are (the Government)”: “Hoje é Dia da Independência, e vocês são o governo”. Com um punk mais técnico e reflexivo do que o caos anárquico do Sex Pistols, o Bad Religion entregou um aquecimento digno para o Green Day com clássicos como “Sorrow”, “American Jesus” e “Infected”.

Rock Nacional no The Town 2025: Capital Inicial, Pitty e CPM 22 marcam presença

O rock brasileiro também teve seu merecido espaço e voz ativa. O Capital Inicial abriu o Palco Skyline com a energia contagiante de sempre. Dinho Ouro Preto comandou o público em coro com hits como “Natasha”, “Quatro Vezes Você” e “Primeiros Erros”. Dinho também se manifestou politicamente, falando sobre a violência, pobreza, desigualdade e a “PEC da Impunidade” antes de cantar “Que País É Esse?”.

No Palco The One, Pitty apresentou um show cheio de atitude e emoção, revisitando sucessos como “Admirável Chip Novo” e “Máscara”. Em um dos momentos mais marcantes, a artista deixou os fãs cantarem em coro “Na Sua Estante” enquanto tocava violão, reforçando sua conexão com a plateia.

O CPM 22 agitou a Cidade da Música com faixas que marcaram os anos 2000, como “Dias Atrás” e “Um Minuto para o Fim do Mundo”, abrindo as famosas rodinhas punk em diversos momentos. O vocalista Badauí endossou os gritos de “sem anistia” da plateia, afirmando que “a voz do povo tem poder”.

Supla e Inocentes: a fusão inesperada de punk e pop

Abrindo o palco The One, a dobradinha de Supla e Inocentes misturou protesto político, nostalgia punk e até um hit pop. Clemente Tadeu dos Inocentes fez um manifesto contra a PEC 6×1 e gritou “Palestina Livre”, declarando “Os verdadeiros patriotas estão aqui” no Dia da Independência.

Supla, em uma aparição surpresa com máscara vermelha e uma bandeira “Salve-se quem puder!”, provocou o coro de “Sem anistia”. Com um repertório que incluiu “O charada brasileiro” e uma adaptação de “As It Was” de Harry Styles, Supla, aos quase 60 anos, mostrou que o punk continua relevante e em diálogo com a Geração Z.

Novos talentos e diversidade: palcos Quebrada, Factory, São Paulo Square e The Tower

O The Town também celebrou a diversidade musical em seus outros palcos. No Palco Quebrada, o trio mineiro Black Pantera entregou um show pesado, misturando hardcore e thrash. A parceria entre Punho de Mahin & MC Taya trouxe representatividade e força feminina com rimas afiadas. Eles, junto com o Black Pantera, representaram as atuais gerações do rock nacional.

O Palco Factory abriu espaço para o alternativo, com Tihuana e sucessos como “Tropa de Elite”, culminando em um emocionante pedido de casamento no palco. Karina Buhr apresentou sua estética experimental, enquanto Ready to be Hated e The Mönic convida Raidol mostraram a força da nova geração do rock brasileiro.

Na São Paulo Square, a música jazzística dominou, com Kamasi Washington encantando com suas longas composições de spiritual jazz e a Orquestra Mundana Refugi trazendo diversidade cultural. A The Square Big Band apresentou uma emocionante homenagem a Amy Winehouse com Clariana. Para fechar a noite em ritmo de dança, o duo Cat Dealers incendiou o The Tower Experience com um set explosivo de música eletrônica.

Protestos políticos no The Town 2025

Além dos shows, o 7 de setembro no The Town 2025 foi inegavelmente marcado por um cenário político e social muito presente. Artistas e público utilizaram o feriado da Independência para discursar e gritar contra o fascismo, o golpismo e a desigualdade.

As palavras de ordem “sem anistia” e ofensas ao ex-presidente Jair Bolsonaro foram constantes em diversos momentos. Essa fusão de arte e cidadania transformou o festival em um espaço de protesto e liberdade de expressão, reafirmando que a música, em Interlagos, também é um instrumento de engajamento.

By Wil Spiler

Formado em Design Gráfico e pós-graduado em Jornalismo e Marketing Digital, apaixonado pela cultura em geral e por esportes. Trabalhei em grandes redações como TV Globo, GloboNews, Lance!, SRzd, entre outras.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *