Antônio Carlos Belchior, artista cearense, deixou sua marca na história da música brasileira. Abandonando o seminário e a faculdade de medicina, ele se aventurou na vida artística no final dos anos 1960. Enfrentou dificuldades, mas alcançou o sucesso. Reconhecido por grandes nomes como Elis Regina, Claudya e Ney Matogrosso, ele gravou sucessos, lotou estádios e se tornou um sex symbol.
No entanto, em um momento de sua carreira, Belchior desapareceu, deixando para trás fama e fortuna em busca de algo que só ele conhecia. Esse sumiço o tornou alvo de teorias da conspiração, piadas e memes. Em 30 de abril de 2017, sua morte abrupta silenciou as especulações e impulsionou a redescoberta de sua obra por uma nação que, depois de tantos acontecimentos improváveis, passou a dar mais atenção às suas canções.
Em seus 70 anos de vida e 45 de carreira, Belchior deixou um legado musical de poesias e referências que misturam poesia concreta, música pop, bolero, rock e grandes poetas e compositores, como Fernando Pessoa, Olavo Bilac, John Lennon e Angela Maria. No entanto, sua herança mais valiosa é sua filha, Vannick Belchior.
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Vannick Belchior: uma herança musical e afetiva
Vannick conviveu com o pai por cerca de 10 anos e ouviu dele, muitas vezes, que se tornaria cantora. A decisão do pai de se afastar a impactou, mas a música foi a ponte para a reaproximação. Mergulhando na obra do pai, ela buscou entender a si mesma e a Belchior.
Dessa busca, nasceu o show “Um Concerto a Palo Seco“, um tributo ao álbum homônimo de 1999. No palco, ela é acompanhada pelo violão de Lu D’Sosa, músico experiente que também trabalhou com Belchior. A apresentação é intimista e acústica, e Vannick abre o show com a canção “De Primeira Grandeza“, presente no álbum “Melodrama” (1987).
O show é uma jornada emocional por sucessos, lados B e canções menos conhecidas, conectando a admiração da filha pelo compositor à figura paterna. Vannick destaca a influência do pai em suas referências musicais: “ele me trouxe muitas boas referências. Desde criança eu sou apaixonada, completamente entregue para a música popular brasileira”. A filha também ressalta a profundidade das letras de Belchior e como elas a influenciam até hoje.
O reencontro com a música e a paixão pelo palco
Vannick quase seguiu o caminho do Direito. No entanto, em 2020, o músico Tarcísio Sardinha, amigo de seu pai, a convidou para um show. O repertório, como não poderia deixar de ser, era composto por canções de Belchior. Em 1º de agosto de 2021, a apresentação em uma cervejaria reuniu um grande número de fãs saudosos, um sinal de que a previsão de Belchior se confirmava: a filha se tornaria cantora. Curiosamente, ela tinha 24 anos, a mesma idade que seu pai tinha quando iniciou sua carreira musical.
Hoje, Vannick Belchior se dedica a cantar e manter viva a memória e obra de seu pai, um artista que foi ridicularizado e, depois de sua morte, se tornou um “herói nacional”. A filha sente orgulho de ver as pessoas redescobrindo o legado do pai: “Ele merece ser cantado, ele merece estar em cada esquina com alguém cantando mesmo a música dele, a obra dele. Ele merece esse reconhecimento”.
O projeto “Um Concerto a Palo Seco” não é apenas mais um tributo. É uma reparação afetiva, um reencontro entre pai e filha, e o resultado de uma herança que vai além da música. Vannick ainda guarda com carinho o cachimbo de Belchior, uma lembrança do pai que se emocionava ao ouvi-la cantar “Medo de Avião” em seu colo.
Vannick Belchior planeja outros projetos, como um bloco de carnaval em homenagem ao pai, um movimento que ele nunca teria imaginado. Ela também pensa em explorar as obras de outros compositores e até mesmo lançar suas próprias composições, mas, por enquanto, o foco é o legado de Belchior. “Vamos mostrar o que eu aprendi nos discos. Vamos mostrar agora o que é que eu tenho para contribuir”, conclui Vannick.
Ouça e assista ao clipe de Vannick Belchior cantando Comentário a respeito de John
Confira a agenda de shows de Vannick Belchior
- 12/08- São Paulo – O Fino da Bossa (com participação da Roberta Campos)
- 14/08 – Santos – Quintal da Veia
- 15/08 – Mogi das Cruzes Galpão Arthur Neto de Cultura
- 08/08 – Mossoró – Centro de Cultura Banco do Nordeste
- 17/08- São Paulo – Tokio Marine Hall – Palquinho
Tiago Bandeira