Foto: Redes sociais/Lô BorgesFoto: Redes sociais/Lô Borges

O Brasil se despede de um de seus mais talentosos e revolucionários nomes da Música Popular Brasileira (MPB). O cantor e compositor Lô Borges, um dos fundadores do lendário Clube da Esquina, morreu aos 73 anos em Belo Horizonte. A informação foi confirmada pela família do artista na segunda-feira, dia 3. Lô Borges estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro, e a causa da morte foi uma falência múltipla de órgãos, após ter sido hospitalizado devido a uma intoxicação por medicamentos.

A Origem de um Ícone e o Clube da Esquina

Nascido Salomão Borges Filho em 1952, Lô Borges era o sexto de 11 irmãos e viveu a infância no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte. No entanto, uma mudança temporária para o Centro da cidade, durante uma obra em sua casa, alterou para sempre sua trajetória e a da música brasileira. Foi aos 10 anos, nas escadarias do Edifício Levy, na Avenida Amazonas, que ele conheceu Milton Nascimento, o Bituca, que tinha 20 anos na época. Dois meses depois, também no Centro, Lô conheceu Beto Guedes, que andava de patinete e tinha a mesma idade.

O movimento Clube da Esquina, no entanto, floresceu quando a família Borges retornou a Santa Tereza. Nas esquinas das ruas Divinópolis com Paraisópolis, onde Lô tocava violão com seus amigos de quarteirão (a maioria ilustres anônimos), a parceria com Milton se consolidou. O próprio Milton foi quem, ao ouvir a harmonia de Lô, começou a fazer a melodia para o que viria a ser a canção “Clube da Esquina”.

Em 1972, esse movimento se transformou no nome do álbum duplo “Clube da Esquina”, que se tornaria um marco na MPB. O disco, no qual Milton apostou em Lô (então um desconhecido adolescente), é considerado, mais de 50 anos depois, o maior álbum brasileiro de todos os tempos. Sua importância transcendeu fronteiras, sendo eleito também o nono melhor álbum da história da música mundial no ranking da revista norte-americana Paste Magazine.

O Jovem Prodígio e o “Disco do Tênis”

Ainda em 1972, Lô Borges, que tinha 20 anos, foi convidado pela gravadora Odeon para lançar seu primeiro trabalho solo. Este álbum autointitulado, que chocou a gravadora por não ser tão “pop” quanto o esperado, ficou conhecido como “Disco do Tênis” devido à capa que exibia seu Adidas branco.

Para compor as 15 faixas, Lô partiu de um “zero absoluto”, pois havia gastado toda a sua “munição de compositor” no álbum anterior. O processo foi “enlouquecido”, com Lô compondo a música pela manhã e seu irmão Márcio Borges fazendo a letra à tarde, para gravarem a noite. Considerado um dos discos psicodélicos mais populares da música brasileira, Lô Borges revelou que o aspecto psicodélico era reflexo de seu consumo de LSD e maconha na época.

Lô, influenciado por Beatles e Rolling Stones, e esteticamente confrontando a ditadura, criou sucessos atemporais como “Um girassol da cor do seu cabelo” e “O trem azul”.

Após o sucesso repentino, o artista deu uma pausa nos palcos, vivendo um período na Bahia. A retomada em 1978 trouxe o álbum Via Láctea, que ele considerava um de seus melhores, gravado com maior maturidade. Ao longo de sua carreira, Lô Borges lançou 18 discos. Desde 2019, ele mantinha uma notável tradição de lançar um álbum de músicas inéditas por ano. Seu último trabalho, Céu de Giz, uma parceria com Zeca Baleiro, foi lançado em agosto de 2025.

A Intoxicação Medicamentosa

Lô Borges estava hospitalizado desde meados de outubro em Belo Horizonte. Ele precisou de ventilação mecânica e chegou a passar por uma traqueostomia. O quadro que o levou à UTI foi uma intoxicação medicamentosa. Especialistas explicam que tal condição pode ocorrer por erro de prescrição, uso inadequado ou automedicação, e, apesar de não ser rara, pode evoluir rapidamente, apresentando risco de morte se o tratamento for tardio.

Como um dos nomes mais importantes da música brasileira, Lô Borges, o caçula de uma geração de gigantes, deixa um legado duradouro de liberdade criativa e inovação, mantendo a MPB vibrante ao longo de sua vida através de parcerias e influências estéticas. Sua capacidade de unir o lirismo brasileiro à psicodelia do rock o eterniza.

By Tiago Bandeira

Jornalista, apaixonado por música e pesquisa. Nascido no subúrbio nos melhores dias (ou não). - Pesquisador do Tá na História - Podcaster no Comer, Dormir, Jogar - Administrador da página Memórias do Subúrbio Carioca

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