O falecimento de Arlindo Cruz, um dos maiores ícones do samba brasileiro, em 8 de agosto de 2025, aos 66 anos, deixou uma lacuna imensa no cenário musical nacional. No entanto, seu legado, composto por centenas de obras e gravações, permanece vivo, ecoando em rodas de samba, palcos e corações por todo o país.
Em um levantamento detalhado realizado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), foram reveladas as 10 músicas de autoria de Arlindo Cruz mais tocadas nos últimos cinco anos, consolidando a grandiosidade de sua contribuição ao gênero.
Com 847 composições registradas e 1.844 gravações cadastradas em seu banco de dados, Arlindo Cruz firmou-se como um dos grandes criadores do samba. Sua carreira, que se iniciou profissionalmente em 1981, nas rodas do Cacique de Ramos, e incluiu uma passagem marcante pelo Grupo Fundo de Quintal antes de brilhar em carreira solo a partir de 1993, é um testemunho de sua genialidade e generosidade musical.
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Conheça as 10 músicas mais famosas de Arlindo Cruz
“O Show Tem Que Continuar”
Composta por Arlindo Cruz em parceria com Sombrinha e Luiz Carlos da Vila, esta canção é um verdadeiro hino à perseverança e à resistência do samba.
Lançada como um ícone do Fundo de Quintal, “O Show Tem Que Continuar” transcendeu gerações e foi regravada por diversos nomes de peso, como Exaltasamba, Beth Carvalho, Elba Ramalho, Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra e Grupo Revelação. O próprio título, frequentemente entoado no refrão, tornou-se uma das frases mais emblemáticas do samba em todos os tempos.
“Meu Lugar”
Destaque da carreira solo de Arlindo Cruz, “Meu Lugar” é fruto de sua colaboração com Mauro Diniz, lançada em 2007 no álbum “Arlindo”. A música celebra de forma poética o universo musical e pessoal do artista, prestando uma homenagem vibrante ao bairro onde nasceu e cresceu: Madureira, no Rio de Janeiro.
A letra reflete a vida na favela, mencionando referências a religiões de matrizes africanas, como Ogum e Iansã, e práticas de tradição oral, como o jongo. A canção, que também ganhou interpretações famosas de Beth Carvalho e Roberto Carlos, demonstra um hibridismo cultural ao incorporar uma harmonia jazzística, com empréstimos modais e acordes dissonantes, características da Bossa Nova.
“Samba de Arerê”
Escrita por Arlindo Cruz em colaboração com Xande de Pilares e Mauro Jr. (Mauro Macedo Costa Jr.), “Samba de Arerê” é uma ode à celebração. A letra convida todos, até mesmo aqueles que nunca sambaram, a se entregarem ao ritmo para afastar a tristeza e o desamor. A canção foi popularizada por vozes como Beth Carvalho, Grupo Revelação e Monobloco.
“O Bem”
Resultado da parceria de Arlindo Cruz com Delcio Luiz, “O Bem” é uma tocante celebração da amizade. A letra exalta a proteção e o conforto que se sente na presença de amigos, reconhecendo a importância dessas pessoas na jornada da vida.
“Agora Viu Que Perdeu e Chora”
Composta por Arlindo Cruz, Jorge David e Franco, esta música figura entre as mais tocadas e também se destaca como uma das mais regravadas, evidenciando sua relevância no repertório do sambista.
“Camarão Que Dorme a Onda Leva”
Este samba vibrante e alegre, sucesso de 1983, é uma criação de Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho e Beto Sem Braço. A canção transmite uma mensagem de alerta e sabedoria popular, utilizando crenças e ditados para refletir sobre temas como amor e ciúme.
Embora Arlindo tenha lançado sua própria versão, a música ficou amplamente conhecida nas vozes de Zeca Pagodinho e Beto Sem Braço, e também por Beth Carvalho.
“A Pureza da Flor”
Assinada por Jr. Dom, Babi e Arlindo Cruz, “A Pureza da Flor” é outra composição que se mantém no ranking das mais executadas, demonstrando a força e a beleza da lírica do sambista.
“Será Que É Amor?”
Também com autoria de Jr. Dom, Babi e Arlindo Cruz, “Será Que É Amor?” é uma canção de cunho romântico que explora as nuances dos amores correspondidos e não correspondidos, um tema recorrente nas composições do artista.
“O Que É o Amor?”
Esta sensível composição, criada por Maurição, Arlindo Cruz e Fred Camacho, explora as diversas facetas e significados do amor. Originalmente gravada pela cantora Maria Rita, a canção ganhou posteriormente a versão de Arlindo, consolidando-se em seu repertório.
“Bagaço da Laranja”
Um clássico do samba, “Bagaço da Laranja” foi composta por Arlindo Cruz em parceria com Zeca Pagodinho. Embora mais conhecida na voz de Zeca Pagodinho, é uma das composições mais ouvidas de Arlindo em todos os tempos. Sua popularidade é atestada pelas inúmeras regravações de artistas como Alcione, Beth Carvalho, Leci Brandão, Grupo Revelação, Seu Jorge e Emicida.
O legado das músicas de Arlindo Cruz
A obra de Arlindo Cruz não apenas enriqueceu o samba com melodias e letras inesquecíveis, mas também abordou temas de afirmação sociorracial, exaltando sua origem na favela e as questões de negritude e desigualdade social.
Sua música é um espelho da cultura brasileira, um testemunho de resiliência e a prova de que, mesmo diante dos desafios, “o show tem que continuar”. O legado de Arlindo Cruz, um “poeta do samba” e “homem de fé, generosidade e alegria”, permanecerá como um farol para futuras gerações, perpetuando a essência de sua arte.