Músicas brasileiras no FIFA e EA FC: a trilha sonora que moldou uma geração de gamers

Músicas brasileiras no FIFA e EA FC do início a 2026Foto: EA Sports / Divulgação

Para milhões de jovens ao redor do mundo, os videogames são mais do que meros passatempos; eles servem como importantes plataformas de formação de gostos, interesses e até mesmo personalidade. Nesse cenário, a trilha sonora da franquia de futebol da Electronic Arts (EA), que migrou do nome FIFA para EA Sports FC, possui um poder cultural impressionante, sendo considerada por muitos jogadores um gênero musical à parte: as “músicas do FIFA”.

A ascensão da EA Games como um dos maiores celeiros de boas curadorias musicais deve muito à brasileira Raphaella Lima, carinhosamente apelidada de Raphi por seus colegas. Nascida em Vitória, Espírito Santo, Raphaella mudou-se jovem para os Estados Unidos para a faculdade e, em 2003, assumiu o FIFA ao lado de Cybele Pettus, tornando-se chefes globais de música e marketing da empresa.

Raphi e sua parceira chegaram ao jogo com uma intenção ambiciosa: “Queríamos ser a nova rádio ou a nova MTV”. Elas viram nos games a oportunidade de expor músicas novas para uma audiência massiva e atenta, transformando o FIFA, que inicialmente não era um grande sucesso da produtora, em um êxito por meio da música. Lima explica que a ideia era criar uma curadoria global, buscando um som que fosse capaz de ser captado pelos jogadores, independentemente da língua falada, baseado no sentimento que a música evoca, assim como o futebol.

O resultado é notável: a playlist do FIFA (e agora EA Sports FC) está entre as mais populares do Spotify e é inegavelmente responsável por moldar o gosto musical de gerações e impulsionar a carreira de artistas em ascensão, como a banda Glass Animals, cujo sucesso “Heat waves” foi alavancado pelo jogo. Raphaella Lima expressa grande orgulho em seu trabalho, que, segundo ela, “moldou o gosto musical de muita gente”.

Como as músicas brasileiras conquistaram o FIFA?

A paixão brasileira pelo futebol e a força cultural do país sempre garantiram ao Brasil um espaço cativo nas trilhas sonoras do simulador. A curadoria da EA, que busca a diversidade ao incluir referências da música latina e africana, assegura a representação de diferentes mundos.

Quais foram as primeiras músicas brasileiras no FIFA?

A intenção de criar uma curadoria musical global começou com o FIFA 2004. Essa edição marcou a estreia da música brasileira na franquia, apresentando “Já Sei Namorar” dos Tribalistas, uma canção que faz analogias com o futebol.

O FIFA 2004 foi um marco importantíssimo para os jogadores brasileiros, incluindo também “Deixa a Vida Me Levar”, de Zeca Pagodinho.

Ao longo dos anos, a curadoria continuou a ser uma vitrine para a rica diversidade musical do país:

  • O FIFA 08 trouxe o funk carioca e a indietronica com “Solta O Frango” do Bonde do Rolê, além de Céu.
  • O rap nacional ganhou destaque no FIFA 12 com “Só Tem Jogador” de Gabriel, o Pensador (em parceria com Bloco Bleque), música recheada de expressões futebolísticas.
  • Ainda no rap, Karol Conká agitou os menus do FIFA 14 com “Boa Noite”, e Marcelo D2 (com “Você Diz Que o Amor Não Dói”) também marcou presença. Marcelo D2 observou que ter uma música na trilha do jogo é mais importante para a banda do que para o próprio game.
  • O FIFA 15 consagrou Emicida e Rael com a faixa “Levanta e Anda”, que se tornou uma memória afetiva para muitos gamers.

Funk e rap na era EA Sports FC: reforçando a brasilidade e o protagonismo feminino das músicas brasileiras

Com a evolução da franquia, o funk e o pop brasileiro ganharam projeção global. Em 2021, a estrela pop Anitta participou com “Me Gusta” (em parceria com Myke Towers e Cardi B) no FIFA 21. Já em edições mais recentes, como o FIFA 22, o “fenômeno vocal” Caio Prado emocionou os menus com “Baobá”.

A transição para EA Sports FC manteve a forte presença nacional:

  • No EA Sports FC 24, o aclamado Baco Exu do Blues brilhou com versos em português em “fuera de vista” (feat. Run the Jewels).
  • A playlist do EA Sports FC 25 contou com quatro artistas brasileiros, incluindo os DJs Alok e Vintage Culture, o grupo de rap Brô MC’s e a cantora pop Nonô.

O EA Sports FC 26 demonstrou um compromisso ainda maior com a diversidade e os ritmos contemporâneos brasileiros, escalando três faixas de grande relevância nacional e global, cobrindo funk, trap e música eletrônica:

1. “Passe a Respeitar”: Um funk carioca de Papatinho que reúne grandes nomes como Fernanda Abreu, BK, Naldo e DJ Chernobyl.

2. “Miçanga”: Uma colaboração eletrônica entre Alok, Kawz e BaianaSystem.

3. “Festas e Manequins”: Representando o trap e a voz feminina, a música é da rapper Ebony em parceria com AG Beatz.

Essa seleção reforça a ideia de que a trilha sonora do EA Sports FC busca antever tendências musicais, sendo um trabalho que envolve pesquisa e previsão do que fará sucesso globalmente. O licenciamento de músicas para jogos, conhecido como sincronização, atingiu R$ 19 milhões em 2024 no mercado brasileiro, um avanço expressivo que reflete a crescente importância do setor de games como plataforma de divulgação musical.

A curadoria da EA, descrita por Raphaella Lima como um trabalho de “música boa”, garante que a trilha sonora continue sendo um golaço cultural, unindo a paixão pelo futebol com a descoberta musical de qualidade e diversidade.

O impacto global da trilha sonora: por que artistas brasileiros querem estar no EA Sports FC?

A franquia EA Sports FC (e seu antecessor FIFA) consolidou-se como uma plataforma global onde músicos de todo o mundo têm a chance de serem ouvidos por milhões de pessoas. O impacto das trilhas sonoras vai além do entretenimento, influenciando diretamente a cultura pop e marcando gerações.

A curadora brasileira Raphaella Lima, que também atua em outras franquias como Need for Speed e The Sims, ressalta que o trabalho de seleção envolve ouvir “milhares e milhares” de músicas para chegar às 100 finais de cada jogo. A diversidade é crucial nesse processo, garantindo que o jogo conquiste jogadores de diferentes países pelo coração, mostrando “mundos diferentes”.

O sucesso de bandas e artistas alternativos que estouraram após aparecerem no jogo reforça o poder da plataforma. Nomes internacionais como Glass Animals, Two Door Cinema Club e Tame Impala estão na lista de artistas que ganharam força graças à exposição no jogo.

O Brasil, com seu mercado musical vibrante e predominantemente digital (o streaming impulsionou um faturamento de R$ 3,486 bilhões em 2024 no país, mantendo o Brasil na 9ª posição global), usa o EA Sports FC como um veículo estratégico para a internacionalização de gêneros nacionais.

A presença contínua de artistas brasileiros, que vai do pop (Anitta, Nonô) ao eletrônico (Alok, Vintage Culture) e ao rap/funk (Emicida, BK, Papatinho, Ebony), solidifica a identidade sonora brasileira no cenário global dos games.

Mesmo com a mudança do nome do jogo para EA Sports FC, a influência da trilha sonora e seu papel de moldar gostos musicais perdurará, continuando a ser um ponto de orgulho para a curadoria.

Músicas brasileiras no EA FC 26

Se você é do time do console ou prefere jogar no PC, uma coisa é certa: as músicas que embalam os menus do EA Sports FC são tão inesquecíveis quanto aquele gol de placa no modo carreira. Desde Zeca Pagodinho e Tribalistas até EmicidaAnittaBaco Exu do Blues e agora BKFernanda Abreu e Alok, a trilha sonora do game virou parte da cultura pop brasileira — e um verdadeiro álbum de memórias afetivas para milhões de jogadores.

Pela primeira vez, toda essa jornada sonora foi reunida em um só lugar: a playlist oficial do EA SPORTS FC 26 já está disponível no Spotify — e vem com a camisa da seleção no quesito brasilidade.

Em 2026, o jogo escala três faixas brasileiras para o seu lineup musical, reforçando o protagonismo nacional na trilha de uma das franquias mais jogadas do mundo:
⚽ Passe a Respeitar” – BK, Papatinho, Naldo, Fernanda Abreu e DJ Chernobyl
⚽ Miçanga – Alok, Kawz e BaianaSystem
⚽ Festas e Manequins – Ebony e AG Beatz

E pra quem quiser dar aquele replay na nostalgia, confira as músicas brasileiras que já balançaram as redes sonoras das edições anteriores:

🟡 2004 – “Deixa a Vida Me Levar”, Zeca Pagodinho
🟡 2004 – “Já Sei Namorar”, Tribalistas
🟡 2014 – “Boa Noite”, Karol Conká & “Você Diz Que o Amor Não Dói”, Marcelo D2
🟡 2015 – “Levanta e Anda”, Emicida e Rael
🟡 2021 – “Me Gusta”, Anitta feat. Mike Towers e Cardi B
🟡 2022 – “Baobá”, Caio Prado
🟡2024 – “fuera de vista”, Baco Exu do Blues feat. Run the Jewels

By Wil Spiler

Formado em Design Gráfico e pós-graduado em Jornalismo e Marketing Digital, apaixonado pela cultura em geral e por esportes. Trabalhei em grandes redações como TV Globo, GloboNews, Lance!, SRzd, entre outras.

2 thoughts on “Músicas brasileiras no FIFA e EA FC: a trilha sonora que moldou uma geração de gamers”
  1. […] Aplicativos de música sem internet: o fim das interrupções e o início da comodidade Pink pode ser a próxima diva pop a fazer show em Copacabana; entenda Morre Sam Rivers, baixista lendário do Limp Bizkit, aos 48 anos A maturidade em forma de música: a nova fase do Of Monsters and Men em ‘All Is Love and Pain in the Mouse Parade’ Músicas brasileiras no FIFA e EA FC: a trilha sonora que moldou uma geração de gamers […]

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