Conan Gray e ‘Heather’: análise do hino melancólico da Geração Z sobre amor não-correspondido

heather significado da músicaFoto: Reprodução

Em um ano atípico como 2020, o cantor norte-americano Conan Gray surgiu como uma das grandes revelações da música internacional, encontrando na melancolia do indie pop um canal para expressar as principais angústias e incertezas da juventude.

Nascido em Lemon Grove, Califórnia, Gray traduziu suas emoções, que ele descreve como um “diário”, no seu álbum de estreia, Kid Krow (2020), que alcançou o primeiro lugar na Billboard Top Pop Albums.

A joia da coroa deste disco, e definitivamente a faixa mais adorada pelos fãs, é “Heather”, uma canção que se tornou um fenômeno viral no TikTok e um verdadeiro retrato da experiência da Geração Z.

Qual o real significado da música “Heather”?

A música, lançada em março de 2020 junto com o álbum, e enviada às rádios como single em setembro do mesmo ano, aborda com honestidade crua o desejo de ser amado por alguém que tem os olhos fixos em outra pessoa.

Conan Gray revelou que a canção foi inspirada em uma paixão não correspondida que durou quatro anos durante o ensino médio. O cantor estava apaixonado por uma pessoa que, por sua vez, estava apaixonada por uma colega de classe chamada Heather.

Gray a descreveu como alguém “tão perfeita e maravilhosa”. Na letra, ela é retratada como “um anjo”, “perfeita e encantadora”, e uma pessoa doce, pura e gentil. O narrador, em sua dor, não só deseja o afeto da pessoa amada, mas também deseja ser a própria colega — uma idealização de perfeição. Conan Gray confessou que seu cérebro pensava: “E se eu me tornar Heather, eu posso ser amado”.

“Wish I were Heather” (Eu queria ser a Heather) resume a essência da canção.

Apesar da admiração forçada, Gray admite que odiava a menina “com todo [seu] coração e alma” devido ao ciúme e à dor do amor não correspondido. Essa ambivalência emocional se reflete na letra, onde o eu lírico reconhece que não pode odiá-la por ser encantadora, mas, em um momento de dor avassaladora, chega a desejar que ela “estivesse morta”.

O que o 3 de Dezembro representa na letra?

Um dos detalhes mais marcantes da canção é a referência ao dia “third of December” (três de dezembro). O eu lírico relembra uma lembrança doce e íntima: “eu com seu suéter”, um gesto que mostra o quanto ele valoriza os pequenos atos da pessoa amada.

O suéter, embora seja descrito como “apenas poliéster”, adquire um peso simbólico, pois representa a conexão e o afeto que ele desejava, mas que foi dado à jovem. A menção a essa data se tornou tão significativa que passou a representar a experiência do amor não correspondido nas redes sociais. Curiosamente, o aniversário de Conan Gray é dois dias depois, o que tornou a situação ainda mais marcante para ele.

Por que a música “Heather” viralizou no TikTok?

“Heather” ganhou popularidade massiva na plataforma de compartilhamento de vídeos TikTok. Essa visibilidade transformou a canção em um grande sucesso, provando o poder da Geração Z no cenário musical, que “realmente manda no mundo da música”, segundo Gray.

O impacto da faixa na internet durante o isolamento social foi notável: a canção inspirou inúmeras pessoas a criar, compor e se aventurar com a narrativa de Conan. Tornou-se comum encontrar covers da música, cantados a partir de diversas perspectivas, incluindo a visão do interesse romântico ou até mesmo da própria colega de classe.

O sucesso revelou que a Geração Z ainda tem muito a dizer. Além disso, a palavra “Heather” da canção ganhou um significado no slang americano, sendo usada para descrever alguém que é popular e bonito, idealizando a perfeição.

A ambiguidade de gênero e o protagonismo LGBTQIA+ na obra de Conan Gray

A narrativa da música se destaca por ser um dos poucos exemplos eficazes de histórias de amor não correspondido contadas através de lentes queer (exceto aquelas através de lentes estritamente heterossexuais). Embora Gray não utilize rótulos para sua sexualidade, a canção é considerada “queer” ou “gay” por muitos fãs, justamente por permitir múltiplas interpretações.

Conan Gray aborda assuntos delicados em seu álbum de estreia com coragem, dando voz e protagonismo à comunidade LGBTQIA+ e oferecendo uma nota de esperança aos ouvintes: “Você não está sozinho”. A falta de menção de pronomes de gênero nas letras permite que a canção seja aplicada a diferentes cenários, sendo intencionalmente vaga e multi-interpretativa.

O clipe oficial, dirigido por Gray em parceria com Dillon Matthew, aborda essa temática ao retratar o artista em cenas sensuais, refletindo sobre si mesmo e tentando se tornar o idealizado termo que dá nome à música. O vídeo foi descrito por críticos como uma “visualização íntima” de Gray, “flutuando entre padrões de beleza feminino e masculina”.

No fim, a canção é uma confissão sincera da dor e da insegurança pessoal. A letra expõe a autodepreciação em versos como “Eu não sou nem metade tão bonita” e a luta interna para se encaixar nos padrões de beleza e identidade na busca incessante por aceitação. Essa vulnerabilidade rendeu elogios de artistas consagrados como Elton John.

By Wil Spiler

Formado em Design Gráfico e pós-graduado em Jornalismo e Marketing Digital, apaixonado pela cultura em geral e por esportes. Trabalhei em grandes redações como TV Globo, GloboNews, Lance!, SRzd, entre outras.

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